sexta-feira, 15 de maio de 2009

Como Ganhar Amigos e Desalienar Pessoas

Lolô, assíduo leitor da coluna da Lucy Kellaway no Financial Times, fez a gentileza de enviar o texto desta semana para este alienado blogueiro que nunca lê a publicação:

Escrito por Lucy Kellaway, com livre tradução do expatriated.

Publicado originalmente no Financial Times em 10 de Maio de 2009

Como um ladrão me deu 10 razões para ser grata

Na última quarta-feira, almocei com um colega em uma lanchonete na rua do escritório. Nós sentamos, uma de frente para a outra, em uma pequena mesa e tomamos sopa. Eu tinha colocado minha bolsa atrás da minha cadeira e, quando estávamos de saída, percebi que a bolsa tinha saído antes de mim.

Eu estava tão consumida pelas fofocas do escritório que não observei que alguém tinha, quietamente, surrupiado a minha linda bolsa de couro marrom. Toda a minha vida estava dentro dela. Que incômodo infortúnio, pensei.

Eu tinha comprado a bolsa há um ano, quando pareceu uma boa idéia gastar uma desmedida quantidade de dinheiro em uma bolsa. Dentro dela estavam o Blackberry, o iPod, £200 em dinheiro, uma carteira que continha uma pilha de cartões de crédito, um chumaço de recibos de despesas não reclamadas, dois notebooks, minha agenda e minhas chaves.

Pensei irritada: “Aqui está o lado feio da recessão”. O crime ocasional está em alta. Os sem lei e os desesperados estão vaguando pelas ruas, levando as bolsas das trabalhadoras fofoqueiras.

Contudo, após um tempo, a raiva baixou e eu dei conta de que eu estava com o espírito um pouco mais elevado do que antes do incidente. Parei e pensei. que existem 10 motivos de consolo por ter a bolsa roubada. Alguns deles até essenciais.

1. Ter seu Blackberry e celular surrupiados é pouco agradável. Você entra em pânico nos primeiros dez minutos, mas depois disso, é agradável. Se alguém quer falar com você, tem que fazer um esforço - e, felizmente, ninguém parece querer falar tanto comigo o suficiente para tentar. Então, me deixaram em paz.

2. Ficar sem dinheiro é surpreendentemente legal também, porque as pessoas ficam comprando coisas para você. Até agora, hoje foram: um café, uma Diet Coke e um Kit Kat. Meu marido me deu duas notas de 20 quando saí de casa de manhã. Eu posso ter perdido £200 mas terei economizado muito até meus cartões novos chegarem.

3. Não foi culpa minha. Este é um grande impulso na moral. Poucas semanas antes, eu deixei cair, acidentalmente, um celular do FT e, também, destruí um Blackberry mandando-o para a máquina de lavar. Nas duas ocasiões, eu senti vergonha e remorso. Dessa vez, entretanto, eu era vítima e não o autor e as pessoas foram estarrecedoramente simpáticas. Os funcionários do restaurante me ofereceram um almoço grátis na próxima semana. O encantador atendente do callcentre do meu banco deu-me pêsames, como se eu tivesse perdido alguém de forma trágica.

4. Tenho uma história para contar. A vida no escritório é tão tediosa que um pequeno drama é sempre bem-vindo.

5. Não paro de encontrar coisas que eu acreditei estarem na minha bolsa, mas, ao invés disso, estavam debaixo da minha mesa ou nos meus bolsos e, cada vez que isso acontece, experimento um estranho prazer. Eu encontrei minha caneta de prata! Viva! E minha bolsa de maquiagem! Beleza!

6. Quando meus novos cartões de crédito chegarem, eu poderei ir comprar coisas novas e bacanas.

7. Não precisamos nos preocupar tanto com as câmeras de segurança tirando nossa privacidade. A câmera da lanchonete falhou em registrar qualquer coisa suspeita, o que significa que a liberdade civil do miserável ladrão está garantida.

8. Me apaixonei (veja abaixo).

9. Eu me sinto superior a David Cameron. Surpreendentemente, o líder do Partido Conservador teve sua bicicleta roubada no mesmo dia. Como meu cadeado é de última geração, ninguém pode tocar na minha bicicleta - que estava seguramente trancada do lado de fora do escritório. Segura até demais porque perdi minha chave. Naquela tarde, três homens da manutenção do FT tentaram, em vão, quebrar o cadeado da bicicleta com cortadores de fio e um serrote. Um deles sugeriu então uma serra elétrica, mas isso envolveria passar um fio elétrico pela calçada, e o departamento de saúde e segurança (HSE) costuma desaprovar este tipo de coisa.

Os homens prometeram então tentar outra vez, na calada da noite quando o pessoal do HSE estaria na paz e na segurança de suas camas. Garantiram que minha bicicleta estaria livre na manhã seguinte. Assim, eu pedi um bilhete do metro e fui para casa sem bolsa e sem bicicleta. No dia seguinte eu cheguei no trabalho e encontrei a bicicleta ainda fechada. Isso só me deixou uma opção: os bombeiros.

Assim, na manhã da última quinta-feira, eu andei até a sede do Corpo de Bombeiros de Southwark e toquei um velho sino. Enormes portas vermelhas abriram e um bombeiro bonitão com cabeça raspada apareceu e escutou minha história. Disse que falaria com seu superior. O chefe, um rapaz de olhar doce que aparentava ter 15 anos, garantiu que estariam lá em quinze minutos. Poucos minutos depois, um grande veículo vermelho com uma luz azul piscando manobrou na frente do escritório. Deu marcha ré - parando o tráfego em ambos os sentidos- e dele pularam não um, mas quatro bombeiros. Dois deles se ocuparam de um gerador e da maior tesoura do mundo. Os outros dois foram me encontrar e submeteram-se aos meus selvagens agradecimentos. O cadeado foi cortado rapidamente e eu tive a liberdade de Londres outra vez.

10. Londres não é cheia de ladrões tentando roubar você. É cheia de pessoas amáveis e prestativas, e quatro delas são celestiais e bonitos bombeiros.

Como pudemos ver, Lucy é uma daquelas pessoas que conseguem ver o copo meio cheio até em uma das mais desagradáveis situações. Eu tento fazer o mesmo, ainda que dificilmente consiga. É um exercício e um esforço diário. E vocês?

Gostaram da história e querem parabenizar a autora? O e-mail dela é: lucy.kellaway@ft.com


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