Acabou a minha primeira semana de figuração no filme. Agora, apesar do rescaldo de uma "migraine" grau 10 na Escala Richter, lá vai um relato sobre a experiência.
Para começar, preciso contextualizar minha participação no projeto. Eu era um extra, figurante. Aqui no Reino Unido, somos chamados pelo pomposo nome de "stunts", diferentemente de Hollywood, onde o termo é aplicado só para os dublês.
Ou seja, apesar do apelido bacana, fazia parte daquelas pessoas que não possuem nenhuma habilidade específica para estar em um set de filmagens. A única função é colaborar no processo de tornar a encenação algo o mais próximo possível de uma situação real. Para a produção, um stunt é o idiota que, a qualquer momento, pode estragar uma cena.
Enfim, tirando os responsáveis pela figuração, o restante dos carregadores de piano da produção, te olham o tempo todo como se você tivesse acabado de fazer uma grande cagada. Não era raro um operador dizer que o figurante estava atrapalhando, quando na verdade tinha sido colocado naquele posto esperando um comando para trabalhar.
Efeito dominó. Andrew, o diretor de fotografia chamava pelo rádio Mike, o seu assistente, e ao invés de dizer algo relacionado com as câmeras, mandava o cara levar um capuccino para ele. Mike fazia xingando o chefe e depois, para descontar, pegava um extra para Cristo.
Como soi acontecer em filmagens ordinárias, os figurantes trabalham com suas próprias roupas. Me mandaram ir vestindo smart clothes que, nada mais são do que um bom terno e gravata. Eu não trouxe nenhum costume para cá, tenho um paletó preto para um caso de urgência. Gravata? Não ponho uma desde o casamento do Lú e da Monicão. Resolvi a parada com uma calça social, o paletó preto de 1997, do lançamento do Subaru Outback e como não tinha gravata, peguei um lenço preto da Anne e amarrei no pescoço. Fiquei até com um ar aristocrático.
Passado o primeiro dia, onde passei a maior parte do tempo sentado esperando, avisaram que na quinta-feira usaríamos as mesmas roupas.
Ontem foi um dia bem mais bacana, apesar de repetitivo. O horário marcado era sete da manhã, cheguei às 6h53 pensando em tomar um cafézinho para esquentar a manhã de 10ºC. Nada, me mandaram ir para minha posição, pois as gravações estavam atrasadas. Mau deu tempo de guardar minha mochila.
Noel, o diretor dando instruções para os atores
Fizemos apenas uma cena. Pelo menos umas 50 vezes. Além das repetições básicas, por erros, os diretores gostam de fazer vários ângulos diferentes. Minha posição era em um caixa eletrônico, de onde eu deveria sair falando no celular e passar por trás dos protagonistas. No vai e volta, sempre olhava para o restaurante em frente, o Balans. Não havia como não lembrar do Gilou.
Terminado cada shot, ouvíamos o comando reset! A ordem para voltar a posição. Algumas vezes vinha um posterior five steps. Significava que a gravação começaria cinco passos depois da anterior. Quando a coisa engrena é fácil; Position one (ponto de partida), position two (cinco passos), position three (dez passos). Terminado, começava a mudança de ângulo de filmagem. Apenas a técnica fica no set e os figurantes ouvem: "Relax stunts!" - ou seja, sumam daqui, por hora.
O pau comeu direto das sete até meio dia e meia. Aí foi a pausa para o almoço e depois foram gravadas cenas internas, das quais eu não fazia parte. 15h00, ouvi o agradável som do "See you tomorow", não antes de ser informado que deveria voltar com a mesma roupa!
Hoje foi o dia mais produtivo. Foram três cenas diferentes em todos os ângulos, começando às sete e meia. Infelizmente, a porra da enxaqueca me pegou desde cedo. Fui obrigado a fazer uma pausa e dar um pulo no posto médico para me entupir de analgésicos. Às 13h30 paramos. Era a hora de receber o cachê, almoçar e ir para casa. Uma nova equipe de stunts começou.
Tudo foi divertido. Fazer figuração depois de uns 15 anos, rever o clima das filmagens, observar a forma de trabalhar de dois diretores diferentes e poder conviver com uma garotada de East London, cheia de sotaque e gírias.
Quanto aos diretores, vale a informação jocosa. quando procurei no Google pelo nome, não tive problemas para achar Noel Clark. Ele é uma estrela no universo teen. segundo informou Lili: "Ele ganhou o BAFTA este ano, na categoria Orange Rising Star, (ou revelação para os menos esnobes), batendo a queridinha de Lolô, Rebecca Hall, e braço direito do Rei Leônidas, Michael Fassbender, o moleque de Juno e Johnny Quid de RocknRolla." - Por Adulthood escrito, dirigido e atuado pelo rapaz.
O problema foi o segundo diretor; Mark Davis. Só aparecia um jogador de snooker, Achei que era um que, nos 80's andou pelo Brasil jogando contra Rui Chapéu. Engano, aquele era Steve Davis.
Deu duro? Tome um Dreher !!!
Além dos diretores, do diretor de fotografia gente fina e do simpático figurante/rapper do post anterior, vale um destaque para um dos cameramen O carequinha da foto é fera. Estava em todas as tomadas e sempre nas posições mais ingratas. Seja no ar ou deitado no chão, o boneco dava conta. Em uma cena, ainda no primeiro dia, o careca teve que fazer uma tomada em 360º, em torno de uma mesa, sem trilho ou cadeira de rodas. Fez na raça, andando com a câmera nas costas. É um romântico, um herói.
Fotos minhas nas gravações? Difícil. No meio teenager eu estava como um peixe fora d'água. Não havia muito motivo para registrar a presença de um quarentão vestindo smart clothes. partes do meu corpo apareceram em umas poucas imagens, devidamente destacadas em vermelho:
Voltando para a posição, após um shot
Em um dos five steps, ao lado de um dos protagonistas
Momento balofo: Em um ataque a tábua de queijos, depois do almoço
3 comentários:
Cara, como você está bem no filme!
Lindo! Lindo! Lindo!
HAHAHA! Marco roubou a minha fala! Que situação, hein? Por pouco não foi pego batendo um pratão! Detalhe: o paletó nem fecha...
Também, o coitado e de 1997, do tempo em que o Marcão andava por Arraial de sandália de dedo artesanal, fumando cigarro de palha e cheio de dreadlocks nos cabelos! KKKKK
bjosd para os dois
Postar um comentário