terça-feira, 16 de março de 2010

Veja só

Por Marco Mello, via DoLaDoDeLá

- Hoje é só o sorvete? perguntou a caixa muito educada.
- É sim. Por que tanta revista aqui numa terça-feira à noite? perguntei.
- É encalhe, respondeu.
- Mas tudo isso?
- É, tem sobrado muita. Quando é capa assim, então, falando de política é pior. Quando o assunto é saúde, beleza, até que sobra menos.
- E a editora não reclama de levar tudo isso de volta?
- Hoje em dia não. Logo que eu entrei aqui, o distribuidor pegava no pé do patrão, se sobrava muita. Vivia ameaçando de diminuir a cota e tal. Mas de uns tempos para cá, não. Teve época em que, dependendo da capa, não dava nem para o domingo. Agora, o distribuidor até pede para deixar umas a mais.
- Como assim?
- É que eles incentivam os pontos bons.
- Ah. E esse é um ponto bom?
- É o melhor da cidade.
- É mesmo?
- É o que o distribuidor disse.
- E quanto é a cota de vocês?
- Oitenta.
- Oitenta?
- É.
- Bom, pelo visto aqui vai sobrar mais da metade...
- Até sábado vende mais algumas.
- Ah. Você sabe quantos moradores tem aqui na nossa cidade?
- Cinquenta e poucos mil.
- E não acha oitenta revistas pouco?
- Acho. Isso sem contar os que pegam só para fazer tipo.
- Como assim?
- Tem uns que querem mostrar que têm informação, que são inteligentes, descolados, sabe? Esses levam, mas nem lêem.
- É mesmo? Como sabe disso?
- Já trabalhei em casa de família em condomínio. Fica lá e ninguém dá a mínima. Também, o dinheiro está sobrando, né, nem liga...
- Ah.

Nota do autor: Sou do tempo em que Revista Veja faltava (olha só como a foto é pequenininha, pobrezinha). A gráfica não dava conta de rodar tanta... Certas edições passavam de mão em mão. Textos eram intercambiados. Durante a década de oitenta, por exemplo, era leitura obrigatória. Não dava para começar a semana, numa capital ou grande cidade, sem ter lido, ao menos, a entrevista das páginas amarelas. Hoje, nem o leitor padrão se interessa mais. Perdeu relevância. A tiragem só não cai mais porque o governo do estado andou assinando uns exemplares para distribuir na rede pública de educação, e dar uma forcinha. Mas é um hábito em desuso. Também, viram como hoje ela é mal feita, indigesta. Não é por acaso que, agora, deram para gritar, na esperança que alguém os ouça. Podia jurar que a Luiza Erundina foi eleita com aquela capa do operário morto. Como podia jurar que um dia eles lançaram ao poder um certo Caçador de Marajás. Triste fim para quem já foi o espelho da pequena classe média brasileira... Quero só ver quantos estarão no funeral. Se bobear, nem os assinantes.

2 comentários:

maureliomello disse...

Obrigado pela colher de chá. Aliás, parabéns pelo Palestra no sábado: massacration! bjs, MAM

Tito disse...

Magina Marcão. Meu pobre espaço tem média de 100 visitas, o seu tem 10 vezes mais!
É o Verdão matou a pau!
o Kelinha tá deprê até hj! KKKK
bjo