Em meados de agosto, logo depois da minha separação, conheci a Aline. Uma belga de 24 anos que, se não era maravilhosa, era bem bonitinha. Ela tinha um sotaque quase familiar francês, tão comum aos meus ouvidos nesses seis anos com a Anne.
Aline chamou minha atenção desde a primeira vez que a vi. O contraste entre a pele muito clara e seus longos cabelos negros era poético. Com o tempo e algumas conversas, fomos encontrando várias coisas em comum, como gosto musical.
A atração foi ficando forte, mas como criar alguma expectativa? Os vinte anos de diferença matavam a todo momento qualquer esperança.
Nas noites de sexta o pessoal da classe costumava se encontrar em um pub próximo a escola. Aline nunca foi. Apesar do relacionamento cordial, passava a impressão de que as coisas na vida dela eram divididas. O que estava de passagem, como nós e o que seguiria. Mesmo assim, cada vez mais, a belga visitava minha mente.
Certo sábado, fiz um almoço em casa para a turma da escola. Aline veio, bebeu, comeu, mostrou-me seus trabalhos. Era designer de jóias. A cada instante me sentia voltando no tempo e vivendo sensações a muito esquecidas.
Ela foi a primeira a ir embora. Acompanhei-a até a porta do prédio. O caminho de dez ou 12 metros e a quantidade de whisky ingerida foram suficientes para este patético ser se encher de brios e arriscar. Convidei-a para voltar à noite e continuar a cachaçada. Ela aceitou.
O que se deu depois foi uma mistura de emoções. Coisas que eu não sentia a anos voltaram. Lembranças também. Me veio a mente o dia que eu e a Anne começamos a namorar, do quanto tive que beber para criar coragem. A história praticamente se repetia.
Mas, diferente do que vivi lá atrás, sabia que naquele instante não havia nenhuma perspectiva. Na verdade, sentia que aquele affair era só para satisfazer a curiosidade sobre um tiozão vinte anos mais velho. Mal sabia ela que, o velho lobo se sentia como um adolescente. Nervoso e com o coração quase saindo pela boca.
Nunca tivemos o que se pode chamar de um relacionamento. Foram encontros apenas. Todos maravilhosos, pelo menos para mim.
O tempo foi passando e dezembro chegou. Naqueles dias gelados Aline voltou para Belgica. A despedida foi rápida e fria. O que tinha que ser, foi.
Sempre me lembrava dela e continuo usando o anel que ela me deu. Nunca mais nos falamos e nem um mísero e-mail trocamos. A vida segue seu curso e aquilo virou mais uma página no livro de memórias. Ou melhor, tinha virado. Até hoje.
Agora à pouco, quando abri meu e-mail vi que uma outra conhecida dos tempo da escola de inglês comentou o perfil de Aline no Facebook. Normalmente deleto esse tipo de mensagem e nem sei ao certo porque resolvi abrir essa.
Carlota, a amiga espanhola dava os parabéns a ela pela gravidez!
Senti o rosto esquentar e um nó na garganta. Entendi o que as pessoas querem dizer quando falam em dor no coração. Literalmente, meu peito doeu. Não me perguntem o por que, já que isso não faz sentido nenhum para mim. Mas o fato é que eu senti.
Provavelmente, o medo de me envolver completamente encobriu o quão apaixonado eu fui e, infelizmente, a auto-defesa me privou de sentir isso na plenitude.
Algumas horas é horrivel perceber ainda estou sujeito a esse tipo de coisa. Por outro lado é a constatação do óbvio. Estou vivo.
2 comentários:
Cara, já passei por isso também; mas ao contrário: o carinha casou e teve um filho!Sobrei:)
Chato, muito chato ...
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