sábado, 27 de março de 2010

Os Mentirosos

Por Barneschi, via Forza Palestra
Marco Polo Del Nero, o presidente da FPF, tem se portado como capacho da família Marinho. A escolha é legítima; qualquer imbecil tem o direito de se expor ao ridículo ou de se submeter aos interesses escusos de quem quer que seja. No caso específico da discussão sobre a lei que proíbe jogos de futebol na madrugada, FPF e Globo se associaram para defender o indefensável. De novo: é legítimo o direito à defesa. O que não se pode aceitar é que, na ausência de argumentos pertinentes, Del Nero e Marcelo Campos Pinto, diretor executivo da Globo Esportes, passem a manipular números e informações para criar uma mentira. A verdade é uma só: Del Nero e Campos Pinto são mentirosos.

Há uma semana, este blog questionou o silêncio e a omissão pública da emissora câncer. Desde então, tivemos algumas manifestações formais, e elas todas revelam desespero, despreparo e, o pior, desonestidade. É necessário então desmontar as mentiras da dupla Del Nero/Campos Pinto. Para tanto, vamos nos ater a duas matérias, publicadas por Folha de S.Paulo e O Estado de S.Paulo.

Ao desmonte:

1. Folha de S.Paulo, 18 de março de 2010:
Outro Canal - Ilustrada

Pesquisa diz que torcedor quer jogo às 21h40

Pesquisa da Federação Paulista de Futebol mostra que as partidas das 21h40 (transmitidos às 21h50 pela Globo) são as que mais enchem os estádios.
Até a 14ª rodada do Paulistão 2010, as competições desse horário representaram só 10% do total de 140 jogos, mas foram as mais cheias entre as realizadas em meio de semana: reuniram 7.573 torcedores em média, contra 2.897 das partidas ocorridas em outras faixas.
A preferência, no entanto, é previsível. Esses jogos põem em campo os times melhores emais competitivos - e as torcidas mais numerosas.
Esse horário -e a respectiva transmissão pela TV- terá que mudar caso seja sancionado pelo prefeito, Gilberto Kassab, um projeto de lei, aprovado pela Câmara, que proíbe a continuidade de jogos após as 23h15.
A transmissão de partidas das 21h40 é a principal fonte de receita dos clubes. No Paulistão, por exemplo, o contrato de R$ 70 milhões com a Globo representa dois terços da arrecadação total do campeonato. A coluna apurou que a Globo entende como "descabido" o projeto. Tem estatísticas que confirmam a preferência do torcedor pelo evento às 21h40, mesmo com uma opção às 21h.
Uma das justificativas que sustentaram a aprovação do projeto de lei foi a dificuldade de transporte para o torcedor retornar à casa após o jogo. "Por que não manter o Metrô aberto por mais meia hora?", sugere Marco Polo Del Nero, presidente da federação.


Parece até coisa comprada, mas eu acredito mais em despreparo da colunista, dado que o título não reflete o conteúdo. Aliás, cumpre dizer que a nota acima foi publicada não no caderno Esporte, mas na Ilustrada, que atinge o público que interessa à emissora câncer. Em vez de notícias sobre novelas idiotas e reality shows imbecilizantes, eis que temos um texto em defesa dos interesses globais.

Logo de cara, somos informados de que existiria uma pesquisa dando da conta da preferência do torcedor por este horário obsceno. A mentira já reside no horário apresentado (21h40), quando o correto é 21h50 ou até 22h. E aí, de imediato, fica a pergunta: que cazzo de pesquisa é essa? Logo descobrimos que não se trata de pesquisa, mas sim de um levantamento de públicos do campeonato. São, como se sabe, coisas bem diferentes.

Leiam a nota com atenção. Me digam, por favor, se alguns trechos não parecem escritos por algum interessado no assunto? Há frases aqui e ali que mais parecem terem vindo de algum release da assessoria de imprensa da FPF ou da Globo. O texto é até bem construído, mas nada se sustenta. A nota desmorona.

É evidente, canalhas mentirosos, que as partidas disputadas às 21h50 terão média de público superior. Afinal, para atender aos interesses da TV, tais jogos reúnem os times grandes e têm maior apelo popular. O torcedor, portanto, é obrigado a ver os jogos nesse horário; isso é bem diferente de "preferir". Não existe relação de causa, mas de adversidade. O torcedor vai aos jogos APESAR do horário obsceno. O que resta para os horários convencionais (antes 20h30 e agora 21h) são as partidas disputadas por times pequenos, muitos deles sem casa e quase todos sem torcida. A média, é lógico, tende a despencar.

Para finalizar, Del Nero faz o papel do idiota do
Globo Esporte e tenta desviar a responsabilidade para o poder público. Que papelão. Como pode este filho da puta envergonhar tanto o nome de seu pai?

2.
O Estado de S.Paulo, 24 de março de 2010

FPF e Globo vão à Câmara para barrar lei

Em audiência na Câmara Municipal marcada às pressas para discutir um projeto já votado em segunda e definitiva discussão, a Globo Esportes e a Federação Paulista de Futebol (FPF) pressionaram ontem os vereadores pela alteração da proposta que impede a realização de jogos de futebol na capital paulista depois das 23h15. Marcelo de Campos Pinto, diretor executivo da Globo, chegou a dizer em plenário que clubes como Corinthians e São Paulo passariam a mandar seus jogos fora da cidade por causa da regra, o que seria pior para seus torcedores do que as partidas com final perto da meia-noite. O presidente da FPF, Marco Polo Del Nero, fez ameaça maior. Declarou que os clubes paulistas podem ser impedidos pela Conmebol de participar da Taça Libertadores a partir de 2011, por descumprimento dos acordos de transmissão de TV no País.
O texto que obriga os jogos a começarem no máximo às 21h15 foi aprovado há duas semanas por 43 dos 55 vereadores e aguarda sanção ou veto do prefeito Gilberto Kassab (DEM), que ainda não manifestou sua posição. Se o prefeito não vetar a proposta nos próximos oito dias, a Câmara pode promulgar o projeto e a regra, dessa forma, entra em vigor. Nos últimos dias, porém, executivos da Globo e dirigentes da FPF têm pressionado tanto o Executivo como a Câmara pela alteração do texto. As audiências no Legislativo são marcadas sempre antes das votações dos projetos. Mas, após pedido feito por Del Nero ao presidente da Câmara, Antonio Carlos Rodrigues (PR), uma reunião aberta foi marcada para que fossem apresentados os argumentos dos dirigentes e executivos contrários à mudança. Durante quase quatro horas, houve embate entre os representantes da Globo e da FPF com os vereadores.
Segundo o diretor executivo da Globo Esportes, os jogos realizados às 21h45 nos dias de semana registraram em 2009 média de público de 23.787 pagantes, superior à dos jogos realizados às 21horas, de 17.911. "A plasticidade dos estádios cheios também nos interessa, dá credibilidade à TV, que representa o estádio infinito. Por isso há uma imperiosa necessidade de que sejam mantidos os jogos às 21h45", argumentou o diretor. Marco Polo Del Nero disse que, caso os clubes desrespeitem as regras de transmissão, não poderão participar da Libertadores no ano que vem.
O tom de ameaça do executivo e do dirigente causou mal-estar e momentos de tensão no plenário. "Na base do tapetão, estão tentando uma prorrogação que não existe. O projeto já foi votado, está nas mãos do prefeito", bradou o vereador Adilson Amadeu (PTB). Apesar da pressão, o Legislativo descartou por enquanto elaborar novo projeto. Presente na audiência, o secretário municipal de Esportes, Walter Feldmann, disse que Kassab ainda não decidiu se vai vetar a iniciativa da Câmara.


Vê-se que, depois de todo o silêncio, Globo e FPF, em conluio, resolveram pressionar os vereadores para mudar a lei - já aprovada duas vezes. O mais interessante dessa matéria do Estadão (muito boa, por sinal) é notar toda a falta de escrúpulos do diretor da Globo Esportes e de seu capacho. Sem argumentos, eles partem para o confronto mesmo, para um jogo de poder financeiro que demonstra o nível dos envolvidos. Vale destacar alguns pontos que nem podem ser chamados de argumentos:

A ameaça: "Marcelo de Campos Pinto, diretor executivo da Globo, chegou a dizer em plenário que clubes como Corinthians e São Paulo passariam a mandar seus jogos fora da cidade por causa da regra, o que seria pior para seus torcedores do que as partidas com final perto da meia-noite."
Dispensa comentários, não? É quase como se ele dissesse para aceitarmos a merda como está; em caso de contestação (ou de uma lei, como no caso agora), tudo pode piorar.

A bravata: "O presidente da FPF, Marco Polo Del Nero, fez ameaça maior. Declarou que os clubes paulistas podem ser impedidos pela Conmebol de participar da Taça Libertadores a partir de 2011, por descumprimento dos acordos de transmissão de TV no País."
O capacho só pode estar de brincadeira. Será que ele pensa que alguém vai acreditar nessa pataquada? Será que ele pensa que todo mundo é idiota?

Na sequência, o diretor da Globo Esportes se utiliza da mesma arma suja de Del Nero e manipula os números da temporada passada. E é claro que os jogos das 21h50 teriam uma média de público maior: tem Libertadores, Copa do Brasil, clássicos do Brasileirão etc. Os jogos realizados às 21h50 são aqueles que atraem maior público. APESAR do horário, é bom frisar. As médias são facilmente infladas e fica muito fácil exibir qualquer tipo de número favorável. Vale aqui o que já foi observado anteriormente: isso não é preferência; o que acontece é que, devido à importância dos jogos, o torcedor é obrigado a enfrentar os jogos de madrugada. Se os duelos acontecessem às 20h30, a média seria ainda maior.

E aí, para fechar com destaque, eis aqui mais uma declaração estapafúrdia do dirigente global: "A plasticidade dos estádios cheios também nos interessa, dá credibilidade à TV, que representa o estádio infinito. Por isso há uma imperiosa necessidade de que sejam mantidos os jogos às 21h45"
Dá pra acreditar nisso?

A nota da FSP fala em "pesquisa", certo? Pois bem, a verdade é que nunca se fez uma pesquisa para identificar a preferência do torcedor (sobre assunto nenhum, menos ainda sobre este do horário). Em sendo assim, este blog, muito humildemente, tomou a liberdade de fazer no
post anterior a seguinte pergunta: "Torcedor, você prefere o futebol às 21h50? Sim ou não?"

O torcedor, claro, deu a sua opinião. Em um dia, foram 61 votos. Desses, 60 responderam não, quase sempre com uma contundência semelhante à que é vista neste blog. O único internauta que não fez essa opção claramente deixou um voto enigmático: não chegou a ser um sim; foi um "eu não me importo". É bem diferente. No entanto, com enorme boa vontade e para não humilhar demais os senhores Del Nero e Campos Pinto, considerei como sendo um sim.

Ao final, eis o resultado da
PESQUISA:
SIM: 1
NÃO: 60

E aí: alguém da mídia, além da Jovem Pan, vai tomar partido na história? Alguém vai se preocupar com o torcedor? Este blog faz a sua parte; pena que não parece ser o suficiente.

Nota expatriated: Para corroborar todo o colocado pelo amigo Barneschi, farei um sacrilégio; Mesmo sabendo que esse caras estão do lado certo pelas razões erradas.

O blogueiro da "Plêiade do Bem", o internacionalmete afamado 1nh0, gravou o discurso do repórter da JP Wandeley Nogueira na tribuna da Câmara dos Vereadores:

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