quinta-feira, 4 de junho de 2009

Quando o Promotor É Caso de Polícia

Há algum tempo, ainda em Pindorama, assisti o filme Edison, Poder e Corrupção, de 2005, com gente do quilate de Kevin Spacey e Morgan Freeman. Edison era a fictícia cidade onde o Poder Judiciário e a polícia faziam toda sorte de trabalho bem sujo, desde acordos com traficantes até servir aos interesses de corporações.

Pois bem, em uma capital do Brasil, que não é fictícia, a vida parece estar imitando a arte. Um Promotor Público encontrou a solução para a calamitosa situação da segurança pública local. O problema será resolvido com e extinção das torcidas organizadas do Palmeiras. Após a morte de um suposto torcedor do Corinthians, supostamente espancado por Vascaínos e, segundo vários meios de comunicação, por Palmeirenses também, a Douta Autoridade deu a seguinte declaração:

"Por meio de denúncia anônima, eu fiquei sabendo que os vascaínos pretendiam deixar os ônibus na Mancha Alviverde e na TUP (facções palmeirenses) e ir a pé ao Pacaembu. Então percebi que haveria uma emboscada, entrei em contato com o comando da PM e solicitei a escolta"

Que beleza. A Secretaria de Segurança Pública têm o serviço "Disque Denúncia", mas quem recebe as denúncias é o Promotor. Devo imaginar que o telefone dele está lista telefônica?

Bom, vamos adiante. Após a fundamental e precisa informação passada para a PM, o policiamento fez algo até então nunca tentado no Brasil: escoltar a torcida visitante, desde antes da entrada da cidade, até o estádio. Na boa, escolta policial é o procedimento mais antigo que existe no trato com público de futebol. A PM faz isso, a pelo menos, uns 20 anos em jogos de grande importância. Portanto, o funcionário do Judiciário está querendo enganar quem?

Continuando. Ainda segundo o valoroso combatente do crime e da violência, a torcida carioca chegou em 15 ônibus, sendo recebida e escoltada desde Guarulhos até a Ponte das Bandeiras, na Marginal Tietê. Aqui faço uma pequena pausa, para expor uma pulguinha que está atrás da minha orelha. Se a confusão e o crime foram praticados por Vascaínos e Palmeirenses unidos, devo presumir que os Palestrinos foram até Itaquaquecetuba, provavelmente. Ou quem sabe, até a Cidade Maravilhosa, pois assim não correriam nenhum risco de deixar de encontrar com seus parceiros de crime, e juntos marcharem rumo a capital paulista onde não deixariam sobrar pedra sobre pedra. Continua de brincadeira, "né, Dotô"?

Nesse ponto, largo a pulga, pois muda o narrador dos fatos. Quem assume é o comandante do policiamento que informou o seguinte: Os quinze ônibus estavam sendo escoltados por 20 batedores em motocicletas, vejam bem, havia mais de uma moto para cada buzão. Apesar da boa quantidade de homens e veículos policiais, o graúdo oficial disse que os torcedores, repito, em ônibus, conseguiram se desvencilhar das motocicletas, assim que encontraram com um bom número de torcedores rivais. Aí foi pau, pedra e tiros para todo lado. Contudo, segundo consta, apesar dos criminosos estarem de posse de armas de fogo, o corintiano foi morto por espancamento.

Após o confronto, vários envolvidos foram detidos. A maioria eram corintianos e três - 1,2,3 - Vascaínos, que foram identificados como chefes de uma torcida organizada cruzmaltina. Quantos Palmeirenses, mesmo? Ahhhhhh... nenhum. Como são ágeis esses torcedores do Verdão! Conseguem ser mais rápidos em ônibus do que policiais treinados e suas motos. Justamente na Marginal Tietê que, se me lembro bem, fica parada o dia todo. Criaram confusão, atiraram, espancaram, matam e fugiram sem deixar vestígios. Mesmo assim, foram identificados como Palestrinos. Por que? Só porque o promotor e o chefe do policiamento querem.

Acho que a partir de hoje, vou começar a entender as coisas como eles. Vai ser muito bom para mim, senão vejamos: Se um sugeito tem um amigo que é acusado de cometer um crime, o fato de conhecer o acusado torná-o co-autor? Legal, é bom saber.

Eu conheço o Paulo Tadeu, autor de livros e Palmeirense, diga-se. Partindo desse princípio ele está me devendo uma grana de direitos autorais então, não é? Eu conheço o Pelé, então vou falar por aí que fiz mais de mil gols e que ganhei três Copas do Mundo !!! Ou melhor, eu conheço o Lolô, que é cidadão francês. Isso me dá o direito de ir amanhã até a embaixada dos gauleses e pedir meu passaporte comunitário, afinal eu sou co-francês. Quem diria! Pena que o genial promotor só me fez descobrir isso hoje. E eu aqui esperando há dez meses a porra do meu visto de residência permanente !!!

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