quarta-feira, 10 de junho de 2009

Ipsis Literis

Sem toques ou retoques para não estragar. Direto do Cruz de Savoia

"Liberdade de imprensa

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“Petrobrás tenta intimidar”. Eis o editorial de hoje (10/06/2009) do Estadão. Globo, Folha, JB, ANJ, OAB, todos gritam, esperneiam.

Debates entre jornalista sobre liberdade de imprensa, manifestação contrárias de deputados e senadores; da oposição golpista à situação boquiaberta. Todos em polvorosa com apenas um ato de transparência da direção da Petrobrás.

E qual foi o golpe mortal desferido nos meios de comunicação para causar tamanho desconforto? A criação de um blogue (fatos e dados), meus caros. Lá, neste espaço, cansados que estão de inverdades e parcialidade das EMPRESAS de comunicação, a Petrobrás publica, de antemão, as perguntas feitas pelos jornalistas e as respostas dadas pela estatal, na íntegra. O que há de errado nisso? Nada, responderia um jornalista sério. Nada, digo eu, que quero – digamos – igual à imprensa que tanto alardeia querer zelar pela transparência das informações.

Pelo lado da grita há dois argumentos, perfeitamente contestáveis, dizendo que: a) com isso a Petrobrás está fazendo chantagem, intimidando os jornalistas e não preservando o sigilo da informação; e, b) acaba-se com a exclusividade da mesma informação.

Comecemos então a ver se realmente há problema em uma empresa pública mostrar em um blogue aquilo que lhe foi perguntado e o que realmente respondeu.

O jornalista Claudio Weber Abramo, presidente da Transparência Brasil, diz peremptoriamente, e desmontando a primeira tese, que: “… não existe confidencialidade em relação a perguntas que alguém recebe de um jornalista. O jornalista pode ter o compromisso com a fonte, mas o da fonte com o jornalista não existe”. Bingo!

A afirmação de Abramo já seria suficiente para desmontar o primeiro motivo da grita, mas vou tentar explicar melhor. Confidencialidade de fonte é um instituto criado pela imprensa para preservar uma fonte, pois essa, por medo do risco de se expor, por exemplo, poderia – caso não existisse a confidencialidade – não querer passar uma informação. Ou seja, a imprensa somente preserva seus ‘informantes’ para obter aquilo que é o objeto de seu desejo: uma informação importante. Assim, a informação só é confidencial se aquele que a fornece quiser que seja dessa forma. Não é o jornalista quem define a confidencialidade ou não; sendo mais claro, cabe a aquele que informa optar pelo anonimato (o seu: o da fonte) ou pela transparência da informação. No caso, a Petrobrás optou pela transparência em sua relação com a imprensa.

Além disso, estamos cansados de receber informações com uma série de condicionantes. Seria, poderia, talvez… Quem me garante que todas as informações prestadas pelos veículos de informação são o retrato fiel daquilo que foi transmitido pela fonte anônima ou não anônima? Não é raro desmentidos, em pé de páginas, onde sabemos que aquilo que foi publicado não é bem aquilo que foi dito. Se tivermos – como já temos em relação à Petrobrás – a chance de sabermos a versão do ‘outro lado’, coisa que nem sempre nos é permitido, podemos tirar nossas próprias conclusões, prescindindo da opinião – creio que aqui está um dos motivos da grita geral – de editoriais, articulistas e comentaristas, representantes da EMPRESA de comunicação. Eles desaparecerão? Não, mas terão que se expor mais e todos saberemos quem é quem, e qual a razão que move cada um, seja ela do caráter que for: filosófica, ideológica… Comercial.

Eu afirmo que um veículo de informação sério não deveria temer por tal atitude, basta para isso que tenha o compromisso com a verdade daquilo que dizem ser o seu objetivo, ou como afirma por aí um desses: ter o rabo preso com o leitor. Bastaria para isso tentar preservar o teor e o contexto daquilo que foi dito, por exemplo. Os jornalistas e os veículos que se sentem intimidados o fazem apenas por um motivo: o medo de que anos e anos de desinformação e mentiras tenham acabado. Creio que estamos chegando, a passos lentos, diga-se, a aquele ponto da democratização da informação que tanto alardeiam os teóricos das novas tecnologias.

Quanto ao segundo motivo, o que diz respeito à exclusividade da informação, esse é um problema único e exclusivo da EMPRESA de comunicação. Meus caros leitores, alguém pode me dar outro motivo para uma EMPRESA de comunicação querer ser a primeira a noticiar um fato que não um de caráter comercial? Não vou me alongar nesse item, pois aí a grita não é de caráter filosófico, mas estritamente comercial. Neste caso é melhor eu não tentar nem refletir sobre ele, pois é uma seara onde eu refletiria mais com o fígado que com a razão.

Já que estamos em um espaço (blogue) que tem como tema o esporte (futebol) eu pergunto: não é mais ou menos a mesma coisa quando ao invés de uma exclusiva um jogador, um técnico ou um dirigente esportivo dão uma entrevista coletiva? Onde está a exclusividade? E a confidencialidade? Aqui também, exclusividade e confidencialidade não existem, pois sempre são uma opção do entrevistado, não do veículo (meio) de informação. Ao veículo cabe optar por participar ou não da coletiva, informar ou não seus leitores, buscar – é um direito que lhes assiste – uma exclusiva em outro momento, basta para isso que o entrevistado queira.

A grita tem razão de ser, espernear faz sentido, a alegação do cerceamento na liberdade de imprensa tem seus motivos. Todos eles demonstram que a atitude pioneira da Petrobrás vai fazer com que entremos em uma nova era, aquela pela qual eles – a imprensa – tanto clamam: o tempo da transparência; mas – pelo visto – isso tudo só fica no discurso, nas letras, nas tintas e nas páginas de embrulhar peixe. “Casa de ferreiro, espeto de pau”, digo eu.

Não querem tanto os tais ‘controles externos’? Do judiciário, do legislativo, do executivo; alguns querem até controle externo da CBF, por exemplo. Só não querem que os ‘controlemos’, que ‘controle-se’ aquilo que publicam, que saibamos se o que lá está publicado é a verdade do que foi dito ou apenas a interpretação de um grupo que tem interesses econômicos em jogo, e não é – de forma alguma – isento, ‘classistamente’ falando.

Querem continuar a discutir liberdade de imprensa sob a medida de suas próprias réguas. Só o que não discutem é que com essa atitude a Petrobrás está ajudando a preservar aquilo que deveria ser preservado por eles mesmos, a qualidade e a confiabilidade das informações que são prestadas à opinião pública. Mas isso é dar um tiro no pé, pois para EMPRESAS o importante é o lucro, mesmo que para isso pincem uma palavra aqui, uma frase acolá, de acordo com suas próprias verdades. Mesmo que essa verdade não tenha nada a ver com uma informação que seja – como diria? – verdadeira, em interesse dos leitores. Não querem informar, não querem que tenhamos opinião, querem mesmo – ao fim – é formar opinião. A mais próxima da deles o possível, é claro.

Então, meus caros leitores, viva a era da nova informação. Viva a verdadeira liberdade de imprensa, aquela que nos libertará do jugo daqueles mesmos que tanto clamam por ela.

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