quinta-feira, 11 de junho de 2009

Meu amigo Marco;

Recomendo a leitura do post de 9 de junho, do DoLaDoDeLá. É a visão de um competente e tarimbado jornalista sobre o que eu chamo de "Revolução da Informação". E será sobre o pensamento do meu amigo, irmão, camarada, a minha reflexão.

Marcão, meu brother, quando faço críticas à imprensa, pode parecer que quero generalizar. Não é o caso, acredite. Afinal existem jornalistas, análises e opiniões sérias em todos os meios de comunicação tradicionais. Sei que é desonesto colocar todos na mesma latrina. Contudo, o fato é que uma grande parte pode ir descarga abaixo, sem perdas significativas. São os que eu e muitos outros chamamos de "impren$inha".

Não preciso lembrá-lo que sua integridade custou uma editoria no principal jornal televisivo do país e que você e Franklin Martins, por exemplo, estão em um seleto grupo. O dos incorrompíveis e assim injustiçados pelos interesses de uma empresa de comunicações.

Salta aos olhos de todos, e só não vê quem não quer, que jornalismo, em alguns lugares, virou só mais uma engrenagem em corporações que vendem de tudo: entretenimento, religião, classificados, a alma e a opinião. O que visam é o lucro.

Tentando restringir este debate ao Brasil, a questão não passa só pela qualidade da informação. Se é certo que falta formação acadêmica, técnicas de redação e até conhecimento de causa para uma parcela dos atuais protagonistas da mídia alternativa, temos que considerar que a imprensa tradicional também não é um primor nesses quesitos.

A crise de credibilidade, na minha opinião, é o ponto crucial da mudança de direção de quem perdeu a confiança na informação que procura. A internet é apenas o veículo.

Históricamente, quando a confiabilidade está comprometida, ou a imprensa não reverbera a voz de uma parcela da população, esta busca suas próprias alternativas. Nunca faltaram fanzines, jornais clandestinos e panfletos por todo o mundo. Muitas das obras primas do pensamento do Século XX ficaram conhecidas graças a esse tipo de divulgação. A necessidade de se fazer ouvir é uma das reações mais humanas que conheço.

O fato da imprensa servir a outros senhores também não é novidade. Talvez a facilidade de encontrar formas alternativas de receber notícias ou opiniões, tenha criado pessoas mais abertas à outras idéias, o que não quer dizer que isso seja positivo.

Da mesma forma que acontece no "mundo real", o mundo "virtual" vai trazer opiniões carregadas de interesses, parciais e até desinformar. Cabe ao receptor apurar o senso crítico e peneirar, em ambos os mundos, o que presta.

Meu querido amigo, não tenho como concordar com você no que considera uma involução do jornalismo. Também não concordo que na mídia alternativa falte opinião e análise. Existe de sobra. Mas repetindo, concordo que pode faltar qualidade, na mesma proporção que falta aos meios tradicionais.

O momento parece ser uma ótima oportunidade de reflexão para os protagonistas do jornalismo como conhecemos. Ninguém precisa se reinventar ou redescobrir a pólvora. Quem sabe, basta apenas lembrar de coisas muito simples. Uma boa dica é que toda a história tem dois lados, ou que para cumprir o papel de informar é preciso despir-se, muitas vezes, das opiniões pessoais.

Meu nobre camarada, conheço as tradições de sua família. Sei que a conduta é uma delas. Sei ainda que respeitar a diversidade de opinião foi lição transmitida, não só para vocês, como também para quem teve oportunidade de frenquentar sua casa. Por isso tenho a certeza que, mesmo discordando, você lerá com carinho minha reflexão. O espaço estará sempre aberto para você aqui. Use-o se julgar necessário.


2 comentários:

Alexandra Mello disse...

Piru e Marco,
depois de ler vcs, fiquei ainda com mais dúvidas. Que bom. Estes são os melhores debates. Mas uma das poucas certezas que eu tenho continuou inabalável. A de que a verdadeira transformação está nas mãos da educação. E por educação, entendo qualquer ambiente que contribua para a formação consistente de seres humanos capazes de pensar, interpretar e sentir, com autonomia. Estes sim, Piru, conseguirão fazer boas escolhas e peneirar o que presta, como vc diz. Até lá, as empresas de comunicação continuarão, na busca desenfreada por lucro, fazendo de tudo pra conquistar público. Em busca de lucro tb, as escolas vão pelo mesmo caminho. Eu estudei durante toda a minha infância numa mesma escola. Naquela época, elas tinham identidade e as famílias faziam a escolha de acordo com as suas crenças. Hoje não é mais assim, elas tentam agradar todos os tipos de família, na ilusão (ou não) de que assim terão mais matrículas. E as reais necessidades de seus alunos ficam em segundo plano. A triste diferença é que, ao contrário dos adultos que escolhem por que meio querem se informar, as crianças não têm pra onde correr. Afinal, quem decide quase tudo por elas, são seus pais em "parceria" com os educadores formais (tá certo que neste aspecto, já era assim lá atrás). Bom, mas isso já é uma outra enorme discussão né? Bjs e parabéns aos dois pelas reflexões.

Tito disse...

obrigado Xan. Fiquei feliz. bjos