Neste começo de semana, li três textos lúcidos sobre a situação do Palmeiras. O primeiro, postado por Conrado, no Parmerista!. O segundo, por incrível que pareça, vem da mídia tradicional. É do editor e colunista Adriano Pessini e foi publicado, no sábado, no Jornal Agora., e reproduzido no Sobre Porcos e Ratos, no Cruz de Savoia e no Forza Palestra do Ademir. O último foi o do Marcelo do Binóculo Verde. Durante a tarde de ontem, o articulista "flumineiro", (ou deveria escrever o binoculista?), comentou em algum lugar que, devido aos últimos acontecimentos, estava completamente sem inspiração para postar. Deixou para a noite e matou a pau. Sendo assim, considero o assunto Luxemburgo/Departamento de Futebol muito bem esmiuçado.
Quero começar a minha reflexão, lá nos 80, quando o Brasil ainda era o país do futebol, a terra do Coelho Branco, do Chapeleiro Maluco e do Gato Risonho, aproveitando o gancho do colunista Pessini, que escreveu sobre situações que só poderiam acontecer na ficção, mas que infelizmente se passam no Palmeiras nos dia de hoje.
O País das Maravilhas, imaginado por Lewis Carroll era um reflexo nonsense da era Vitoriana, aqui na Caledônia. No mundo da bola, o desenho mais bem acabado era o Brasil. O futebol era um espetáculo de arte, em um lugar ainda governado pelo medo e sob um regime de excessão. Era o ópio e o circo para um povo sem pão.
Enquanto no mundo real, leia-se Europa, os campeonatos eram organizados, os mercados praticamente restritos a jogadores nativos e a profissinalização de toda a estrutura do esporte dava seus primeiros passos, no País das Maravilhas tudo era festa. O campeonato nacional tinha 645 times, 300 fases, em que alguns times jogavam 500 partidas e outros quatro, e no final todos disputavam o mesmo título. O Maracanã todo santo domingo, ficava lotado, o Pacaembú e o Panetone também. Existia a figura do profissional? Não, os jogadores eram "assalariados" de clubes que viviam no mais completo amadorismo.
Este amadorismo e as poucas possibilidades de transferências milionárias para o exterior, ajudaram a criar a mística do amor à camisa, do ídolo eterno e do dirigente bonachão e folclórico. A década que, segundo Kid Vynil, não terminou, foi passando e no mundo real o profissionalismo estava definitivamente instaurado. No Brasil, chegava forte o vento da democracia, trazendo de volta "o irmão do Henfil e tanta gente que partiu num rabo de foguete", como o meu cunhado Dodô. No País das Maravilhas, apesar de algumas estrelas terem migrado, ainda havia ídolos e grandes times.
Os anos 90 chegaram no mundo real trazendo a idéia de uma Comunidade Européia forte, organizada e capaz de fazer frente ao poderio econômico do Tio Sam. Com os novos ares, em alguns pontos socialistas, em outros liberais, criou-se o cidadão europeu, a pessoa de livre trânsito no continente. No embalo, veio um jogador belga, medíocre diga-se de passagem, que lutou e mudou a ordem do futebol, Jean-Marc Bosman. A lei que foi batizada com seu nome, em 1995, acabou com o escravagismo da bola no continente. Os atletas, ao final de seu vínculo contratual, poderiam escolher livremente para onde ir. As estruturas profissionais do futebol balançaram, mas não ruíram. Os europeus conseguiram fazer do limão uma limonada e o esporte seguiu seu rumo.
No País das Maravilhas, a decadência chegava para ficar e reinar por muito tempo. Os principais jogadores, depois de dois ou três anos, iam para o velho mundo ganhar rios de dinheiro e os amadores clubes locais não tinham como detê-los. Em contrapartida, transformaram essas transferências em business, o que acabou atraindo investidores externos, como a Parmalat, que deu sobrevida ao mundo dos sonhos. Deu ainda a possibilidade para o nascimento de figuras mitológicas como o Sr. Estrategista e os modernos gestores do Jd. Leonor. Grandes esquadrões foram criados e o futebol começou a trilhar o caminho para se tornar um projeto empresarial.
Em 1998, o sonho acabou, o castelo de cartas da Rainha de Copas, caiu. O governo brasileiro sancionou o clone da Lei Bosman, a Lei Pelé. O decadente País das Maravilhas se transformou no Mundo Bizarro, dos quadrinhos da DC Comics. Os escravos da bola tupiniquins estavam finalmente livres. Porém, como todos os seres despreparados para as grandes mudanças, sucumbiram e de escravos passaram a ser prostituídos por seu agentes.
Os tais empresários/cafetões transformaram os atletas/meretrizes nacionais em produto de exportação rápida. Ao invés de criar seres profissionais, criaram máquinas de ganhar dinheiro fácil. Os jogadores começaram a sair da terra natal para qualquer canto do planeta em troca de uma boa bolada na transferência. Aprenderam com os rufiões que contrato não é nada mais do que um mísero pedaço de papel. Os clubes do Mundo Bizarro ficaram completamente reféns. O negócio virou coisa de submundo. Também descobriram que dá para ir com a passagem de volta marcada. É só chorar um pouco e dizer que sente saudade de casa e rasgar o que foi firmado.
Cá estamos nós, os habitantes do Mundo Bizarro. Nas terras descobertas por Cabral, a área social teve progressos enormes. No planeta futebol tudo é inversamente proporcional. Os clubes ficaram no meio do caminho entre a profissionalização e o amadorismo, muitos administrados por déspotas. Como a possibilidade de ganhar dinheiro com as transações ficou menor, os administradores bizarros ofereceram a Geni, de Chico Buarque para que as redes de televisão fizessem o que bem entendessem.
Seres mitológicos redivivos, como Ronaldo Ducho e Adriano Imperatriz, desenganados para o futebol no mundo real, voltaram para ser reis. Ou ainda o Sr. Estrategista que, depois de desastrada passagem por um grande time daquelas bandas, ao invés de voltar com rabo entre as pernas e rever seus conceitos, opostamente interpretou o que conseguiu captar do profissionalismo europeu de maneira bizarra, como soi acontecer no planeta quadrado, e desde então, caminha ladeira abaixo.
Esse é o retrato do futebol brasileiro, que tenta copiar o modelo europeu e acaba fazendo tudo errado, como Bizarro#1, o anti-herói dos quadrinhos da DC. Onde Vanderlei Luxemburgo é só uma caricatura mal acabada, um megalômano de hospício, o Napoleão de camisa de força que imagina dominar o mundo. Mundo este que nada mais é que sua pequena cela no manicômio.
5 comentários:
Hehehe
Muito bom e valeu pela referência.
Só para constar, nasci em Volta Redonda-RJ, moro em Uberlândia-MG e torço para o Palmeiras.
Ta adicionado ao Nação Palmeiras.
Abraço!
Oh Marcelo, achei que você era natural de "Berrrlândia", rapaz, Desculpa. Rsssssssssss
abs
Valeu, Fernando. Sempre leio o Nação. Apareça
Brilhante texto. É a realidade imitando a ficção.
Estou adicionando la no Palestra Imortal.
Abraço!
www.piazera.wordpress.com
Obrigado Piazera
Abs
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