terça-feira, 11 de agosto de 2009

Emirates Cup - Parte I

No dia primeiro de Agosto, Vinicius e eu fomos ao estádio do Arsenal para a primeira rodada da Emirates Cup. Os jogos programados eram PSG, da França, contra Rangers, da Escócia, e os donos da casa contra o Atlético de Madri. Neste post vou me ater apenas ao comportamento das torcidas.

O Fábio Tatú, do Porcopédia, tinha sugerido que eu gravasse os cantos das torcidas, como fiz em Wembley, durante a Wembley Cup. Naquela oportunidade a torcida do Celtic deu um show de emoção. De arrepiar.

Desafortunadamente, não deu para atender ao pedido do amigo Fábio, já que esse blogueiro, fotógrafo e cinegrafista nas horas vagas, cometeu um erro primário: esqueceu de levar o cartão de memória da câmera!

Voltando ao torneio, os escoceses mais uma vez demonstraram que, além de bons de copo, são incrivelmente apaixonados. O setor reservado para os blues, propositalmente atrás de um dos gols, e, via de consequência, mais baratos, foi totalmente ocupado. Mas, a atitude deles é bem diferente da dos Celtic fans.

Enquanto os verdes cantam canções melodiosas e longas, sempre referentes ao time, os rivais preferem cantos curtos que, em sua maioria, são de incentivo ao clube do coração. Contudo não pararam de fazer festa em nenhum momento e, também, não faltaram gritos ofensivos contra os franceses e contra a torcida do Arsenal.

É a diferença cultural entre os dois maiores times da Escócia. Enquanto o Rangers é o clube de massa, do establishment, da classe governante e dos protestantes, o Celtic é o time dos renegados. Uma mistura entre católicos locais e irlandeses, os subjulgados. Noves fora a questão religiosa, que muitos acadêmicos gostam de colocar como ponto central do problema, tanto na Irlanda quanto nas Highlands, a pendenga é muito mais de caráter social do que qualquer outra coisa. É entre os nacionalistas, de azul, e os imigrados e seus amigos escoceses de segunda classe, de verde.

Enquanto na Irlanda todos pudemos conhecer o lado terrorista e perverso do IRA, facção que representa os católicos ilhéus, seus semelhantes nas terras do Whisky preferiram a via do não -confronto bélico. São servis ou espertos? Quem sabe?

Voltemos às confortáveis cadeiras do Emirates Stadium. O Paris Saint Germain é um time novo, criado em 1971 e que parece incapaz de atrair torcedores. Pode parecer exagero, mas eu não ví uma só camisa do clube no estádio. Faixas ou bandeiras? Apenas uma da França do lado oposto à torcida azul, atrás do outro gol. Como consegue ter boa ocupação no Parc des Princes, o PSG deve ser como um time tupiniquim que nunca desperta paixões, no máximo simpatia.

No intervalo do primeiro jogo, a torcida do Arsenal já comparecia em grande número e se comportava como se estivesse em uma das belas e tradicionais quadras de Wimbledon. Fria, batia palmas para os dois times, aguardando pelo jogo principal.

Ao final do confronto entre os caras de saia xadrez e os caras de saia balonê drapeada, a grande maioria dos azuis pegou o rumo de casa. Compreensível, afinal a viagem até Glasgow dura umas dez horas de bumba. Ficaram, se muito, uns mil torcedores, criando um vazio estranho atrás do gol. Os Gunners ocuparam quase que a totalidade do estádio, já que os madrileños também não deram as caras. Acredito que haviam umas 30 mil pessoas assistindo ao jogo de fundo.

O comportamento da torcida do Arsenal foi patético. Os caras vaiavam seu ex-jogador Reyes todas as vezes que o pobre pegava na bola. Torcer pelo time, que é bom, nada. A grande maioria continuava como se estivesse em uma partida de tênis. Aplaudiam as jogadas de ataque de ambos os times! Menos do infeliz Reyes.

Uns poucos torcedores que estavam nos lugares mais baratos, até que tentavam cantar. Porém, o restante não acompanhava. Neste momento, deu-se o fato bizarro: os mil escoceses que ficaram para assistir o jogo começaram a cantar e, dado ao comportamento gelado dos fans do Arsenal, eram ouvidos em todo o Emirates.

No dia seguinte, comentei com um amigo inglês, torcedor do Chelsea, e ele alegou que o público desses torneios não é o mesmo que frequenta a temporada regular. Isso justifica, mas não explica. Justo eu que sempre achei que o futebol brasileiro tinha que ter uma administração do tipo NBA ...

Depois de passar a conviver com o cenário do futebol B2B, tenho que dar o braço a torcer e embarcar na teoria de vários blogueiros respeitáveis como o Ademir, o Barneschi, o Raul, e o Seo Cruz, que o futebol S/A é simplesmente entretenimento, leva a elitização e com isso perde o sentido. Vivendo e repensando.

Notas de Palmeirense:
1. Meu filho e eu fomos devidamente paramentados com o manto alviverde. A torcida dos Rangers não curtiu muito.

2. Ainda fora do estádio, enquanto procurávamos o McDonalds, encontramos uma família de vascaínos. Eram quatro, pai, mãe e um casal de filhos. O garoto começou a cantar que Obina é melhor do que o Eto'o! Esse é outro carismático que extrapola o time que joga.

3. Pela primeira vez, em três idas ao estádio, tive minha mochila revistada. O segurança com forte sotaque do leste europeu pegou minha bandeira do Palmeiras, abriu e falou no rádio:
"Tem um senhor aqui com uma bandeira de um clube do Brasil, o Palmeiras. Pode entrar?"
- Infelizmente, o superior não deixou. Como estava impressionado com o fato do tipo conhecer o Verdão nem argumentei.

4. Vistos e relatados, chegamos à conclusão que:
- Torcedor do Arsenal é bunda mole;
- Torcedor Escocês é divertido;
- A torcida brasileira era a terceira em número no estádio;
- A torcida do Palmeiras era maior que as torcidas do PSG e do Atlético de Madri juntas;
- O Palmeiras é conhecido em todos os cantos do Universo;
- A bandeira do Verdão intimida e por isso foi proibida!

10 comentários:

Anônimo disse...

Post muito legal, Tito.
Eu particularmente gosto e tenho curiosidade sobre o som das arquibancadas de torcidas de outros países. Por isso acho muito legal sua impressão desses jogos.
Não "torço" pra nenhum time daí, sequer acompanho o campeonato inglês. Vi num programa aqui os torcedores dos Gunners chegando pra esse jogo e fiquei desapontado com o (bom) comportamento da torcida. Muito inglês pro meu gosto. Gosto da música que os torcedores do Liverpool cantam "You´ll never walk alone". Os torcedores do Celtic também cantam a mesma música mas não sei o motivo. Tem outra dos Reds que eles cantam p/ os torcedores do Chelsea "Fuck off Chelsea FC, you ain´t got no history".
Ano passado vi um filme meia boca (Green Street Hooligans) com o Elijah Wood. Ele vai a Inglaterra visitar a irmã e o irmão do cunhado é um hooligan do West Ham. O filme vale por mostrar as rivalidades, os cântigos das torcidas.
abs

Lilian disse...

Metendo o bedelho na conversa, pra tecer considerações sobre "You'll Never Walk Alone". A música foi composta em 1945, por Rodgers e Hammerstein, para o musical da Broadway, Carousel. No começo dos anos 60, foi regravada pela banda de Liverpool, Gerry & the Pacemakers e, desde então, foi adotada como hino pelos torcedores do Liverpool. Uma curiosidade: o título da música está no escudo e nos portões de entrada do estádio Anfield, em Stanley Park. Quem quiser ver alguns detalhes inusitados do estádio deve assistir "Fórmula 51", como Samulel L. Jackson e Robert Carlyle.

Também é cantada pelos torcedores do Bayern München, Stuttgart, Borussia Dortmund, Schalke 04, Werder Bremen, Sankt Pauli, Alemannia Aachen, Mainz 05, Kaiserslautern, Borussia Mönchengladbach e Dynamo Dresden, da Alemanha; Willowburn Magpies, da Austrália; Rapid Wien, da Austria; Club Brugge KV, Royal Antwerp, Sint-Truiden e KV Mechelen,da Bélgica; Dinamo Zagreb, da Croácia; Celtic, da Escócia; North Texas Mean Green Football, dos Estados Unidos; Ipswich Town, da Inglaterra; Genova, Verona e Milan, da Itália; FC Tokyo, do Japão; Feyenoord, VVV-Venlo e Twente,da Holanda; Partizan, da Sérvia; e Helsingborgs, da Suécia.

Anônimo disse...

Lilian,
sobre a canção "You´ll never walk alone", sabia só que tinha sido gravada por Gerry & the Pacemakers em 1963 mas não sabia que era mais antiga e de um musical da Broadway.
Além de estar gravada no portão de Anfield, a inscrição também está no escudo do Liverpool.
Você conhece o motivo da canção ter virado hino desses clubes, especialmente do Liverpool ? Pensei que tivesse a ver com o disastre de Hillsborough mas pelo que vi a música já era cantada pelos torcedores antes dessa tragédia.
abs

Tito disse...

Bom já vi que as informações estão correndo e eu não preciso me intrometer!!! Rsssssssssssss
Abs - Fábio
bjo - Lili

Lilian disse...

Existem duas versões pra mesma história. A primeira é que Gerry Marsden, torcedor fanático do Liverpool, deu de presente uma gravação do single para o técnico Bill Shankly, durante uma viagem da pré-temporada do campeonato inglês, no verão de 1963. Os jornalistas que estavam acompanhando o time na viagem, na falta de coisa melhor para escrever, espalharam que o time tinha adotado a música como tema.

A segunda versão - confirmada pelo próprio Gerry em um programa da BBC Liverpool (o texto do programa pode ser lido aqui: http://www.bbc.co.uk/liverpool/content/articles/2008/06/09/youll_never_walk_alone_feature.shtml) - é que o DJ do estádio resolveu tocar, antes das partidas, as 10 músicas mais tocadas do dia, em ordem ascendente, deixando a música número 1 pro final. "You'll Never walk Alone" ficou no topo da parada por quatro semanas e depois começou a cair de posição. Mesmo quando deixou o Top Ten, nunca deixou de ser cantada no estádio.

A BBC Scotland, no programa Songlines, fez um especial sobre a música, chamado 'The history of 'You'll Never Walk Alone'. Vou procurar e se achar peço pro Tito postar pra você.

Lilian disse...

Como diria papai, 'Poootz' escrevi hoje pro mês todo. Beijo!

P.S.: E um beijo mais que especial pra minha boneca aniversariante de 4 anos. Ai, ai, tô ficando velha...

Anônimo disse...

Nossa Lilian, que aula, hein ?
Agradeço muito pelas informações.
abs

Lilian disse...

Fábio,
Obrigada! Quando o assunto é futebol não me meto, mas quando é música, cinema e afins sempre dou uns palpites. Afinal, blog de irmão é pra essas coisas, não é?
Abraço

P.S.: Adorei e concordou plenamente com seu tweet sobre Marcelo Tas!

Anônimo disse...

Lilian,
estou preparando uma série no meu blog sobre o canto das torcidas. Queria saber se posso usar suas informações sobre as versão de "You´ll never walk alone". Tudo bem ?

Sobre o Marcelo Tas, estava pensando em fazer um bolão pra ver quem sai primeiro. ;-)

abs

Lilian disse...

Fábio,
Claro que pode usar! Só as músicas cantadas pela torcida do Liverpool já renderiam um post, não é? Além de 'You'll Never Walk Alone', durante as partidas da Champions League, eles cantam 'The Fields of Anfield Road' (que ganhou uma nova versão este ano), 'Poor Scouser Tommy' e Ring of Fire, de Johhny Cash.

P.S.: Páreo duro, hein? Capaz do Sarney sair antes... Em todo caso, vou acompanhar o bolão pelo Twitter

P.P.S.: Sobre a questão Celtic X Liverpool, tem uma resposta na seção de cartas do The Guardian. http://www.guardian.co.uk/football/2003/mar/12/theknowledge.sport