quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Sonhos de Uma Noite de Inverno

Texto escrito originalmente para o Terceira Via Verdão e adaptado para o expatriated.
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Seis horas da tarde, uma hora e quarenta e cinco minutos antes do apito inicial de Brasil X Italia, peguei minha mochila com o kit estádio; camisa, cachecol e bandeirão do Palmeiras e parti para a estação de Notting Hill Gate, com destino a Holborn, onde teria que trocar a linha do metro para chegar em Arsenal e no Emirates Stadium.
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Tudo estava preparado, ingressos checados, cartão do metro, enfim, check list completo. Minha idéia, ou sonho era chegar uns 40 minutos antes do jogo. Com o estádio vazio, escolher um bom lugar para pendurar o bandeirão e fazer boas fotos do público chegando.
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Peguei o trem e nem parecia que haveria um jogo do quilate de Brasil e Italia, até que vi um garoto com um mapa da região do estádio. Perguntei se ele estava indo para o jogo e a resposta foi positiva. Ele perguntou se eu era brasileiro e com a minha afirmação, logo perguntou se meu cachecol era do Palmeiras, já abrindo a jaqueta e mostrando sua camisa “marca texto” do Verdão.
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Duas estações adiante, os tifosi começaram a invadir o metro. Parei em Bond Street para encontrar com a Anne que vinha do trabalho. Chegando em Holborn foi preciso caminhar um tanto para chegar a plataforma da linha azul para Arsenal. Caminhar é bondade minha, na verdade o que havia era uma enorme “muvuca” e só era possível andar quando partia um trem lotado.
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E assim foram uns bons 40 minutos, ou seja, a margem de tempo para fazer o que tinha imaginado. Faltava ainda encontrar o Oliver, meu chapa inglês que estava entusiasmado com o match. Por sorte, tropeçamos nele no meio da confusão.
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O relógio marcava 6h58, quando conseguimos pegar o metro. No vagão não cabia nem um pensamento de tão cheio. Pudera, estávamos no horário de rush e seria muita ingenuidade acreditar que é possível locomover 50 mil pessoas a mais do que o habitual, em um dia de trabalho, sem causar transtornos. Não dá em Londres, em São Paulo ou em qualquer parte do mundo !
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Para dar uma idéia, na estação seguinte, o auto falante avisou para as pessoas que não iriam para o jogo que seria necessário descer, pois o trem só pararia novamente em Arsenal Station. Não vi ninguém sair.
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Chegamos e a plataforma parou, muita gente e uma só passagem, mas, pouco a pouco, italianos e brasileiros conseguiam chegar até a rua. O estádio fica a uns 100 metros da estação. Entre os dois existe uma ampla passarela e o acesso é muito bom.
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A essa altura, já dava para perceber a grande quantidade de camisas e bandeiras das três maiores torcidas do Brasil; Flamengo, Gambás e Palmeiras. E muitas do time da casa, o Atlético Mineiro, afinal Belzonte é aqui ! Do time da moda? Acho que só vi uma !
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A entrada foi muito simples e sem filas, apesar de estar com uma mochila nas costas, não fui parado, muito menos revistado. Dentro do Emirates, os corredores são amplos, bem sinalizados e iluminados. É impossível se perder.
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Tínhamos ingressos para o pior setor do estádio, o laranja, que é dividido e tem oito portas de acesso. Na entrada dos acessos, dezenas de funcionários do Arsenal, com vistosos coletes laranja, ficavam esperando e perguntando se a pessoa sabia chegar ao seu lugar, em caso negativo, acompanhavam.
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Depois de acomodado pude melhor observar o Emirates Stadium. É uma arena belíssima, sem dúvida. Porém não tão fantástica quanto falaram, mas é imponente.
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Minha cadeira era praticamente no nível do campo e em frente a bandeira de escanteio, contudo, devido a tal inclinação perfeita, eu conseguia ver todas as linhas do gramado, isso é realmente impressionante. Quase igual a um estádio paulistano que tem pretenções de sediar jogos de Copa do Mundo.
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Dois placares eletrônicos, de alta definição e enormes, passavam propaganda do time da casa. Isso foi o pouco que pude ver, pois, logo os times entraram e campo e foram tocados os hinos nacionais. Aí deu para perceber que os fratelli estavam na proporção de 3 para um.
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O estádio estava lotado, uma festa, adversários pacificamente sentados lado a lado. Pude ver muito mais camisas alviverdes. A “marca texto” se mostrava a opção preferida. Fiquei espantado com a quantidade de camisas do Coritiba. Tinha até uma faixa. Alguns bichinhos delicados da floresta apareceram com suas camisas de três cores.
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Logo percebi o que é a marca Seleção Brasileira, colombianos, africanos, árabes, que não falavam uma palavra de português, vestindo a camisa amarela e tentando cantar “Sou brasileiro, com muito orgulho, com muito amor ...”
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O jogo começou e todos sentaram tranquilamente em seus confortáveis assentos. Não vou entrar no mérito do movimentado jogo, clique aqui ou aqui.
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Depois do primeiro gol do Brasil, começou uma “ola”. A primeira tentativa falhou, compreensível, afinal os italianos não estavam muito felizes pra fazer festa com a Azurra perdendo. Logo em seguida, todos entraram no clima e a brincadeira deu quatro voltas no estádio.
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Intervalo, fui ao bar buscar algo para comer. No setor que eu estava não havia restaurante, apenas bares, um bar para cada três acessos, mais que suficiente. Suficiente não foi a comida, uma falha gritante na espectativa de consumo.

Aliás, vale salientar que a única opção para comer dentro do estádio, quando têm, obviamente, é uma torta de carne. Nada se sanduíches ou qualquer outro tipo de quitute. Bebida, claro, não faltou, afinal estamos em solo britânico. As opção de alcólicos eram: Cerveja, vinho branco e espumante.
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Depois do intervalo o jogo e o frio começaram a ficar insuportáveis. Faltando 15 minutos para o final, desistimos. Além do mais, a Anne estava muito estressada com a possibilidade de ter que sair dali na multidão, outra vez.

Peguei meu bandeirão, coloquei de volta na mochila e corremos para a estação, pois assim, escaparíamos do povão. A volta foi muito tranquila, uns poucos tifosi, um tanto quanto frustrados e apenas na linha azul.

Para fechar a noite, com chave de ouro, tivemos o privilégio de encontrar a bela figura abaixo, em Notting Hill Gate !!!
.. Eu imaginava meu batismo em estádios britânicos mais tranquilo, uma coisa lúdica, por assim dizer. Só em sonho. Futebol é futebol. Ou seja, futebol tem muvuca, tem palavrão, tem transporte lotado e é de longe o melhor estímulo para sair de casa com 3ºC. Se bem que, devo confessar, prefiria que fosse um jogo do Verdão.
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5 comentários:

blog Maglia Verde disse...

Sir Tito!
Muito bem, representou legal o Verdão!

abraço
Erick

Tito disse...

Valeu Erick

horas-bundis disse...

gostei do seu blog. cheguei aqui via maglia verde. vou acompanhar seu blog. tenho especial interesse nas partes sobre futebol e, claro, no campeao do seculo.

Tito disse...

Obrigado Marcelo, seja bem-vindo

Unknown disse...

Parabéns Tito!
E obrigado por representar o Verdão ai em Londres!