Há uma semana atrás analisávamos aqui a importância dos grandes ídolos na vida do Palestra e, de quebra, comentávamos sobre o mal que nos assola quando confundimos estes grandes nomes com espíritos menores que alocam nossa paixão, de tempos em tempos. Falávamos desses canastrões que nos trazem falsas esperanças e acabam por nos colocar uns contra os outros, essa coisa cíclica que todos nós sabemos como é na Turiassu.
Neste glorioso domingo, no entanto, o Palmeiras deixou de errar de vez – e desistiu de nos confundir. Luis Felipe Scolari (um mito tão soberano no Palestra que o chamamos de Deus) está de volta para pisar na cabeça de todos os pontos de interrogação que ofuscam nosso horizonte, para imprimir com sua letra mais um capítulo da saga vitoriosa desta família valorosa que nasceu Palestra Italia.
Com Luis Felipe não tem ‘corneta’: tem ‘turma do amendoim’, como ele fez questão de denominar um dia aqueles infelizes da numerada coberta; ele o fez como quem diz: ‘eu sou maior que vocês, e gente como vocês tem que ser taxada, rotulada e exposta numa prateleira de barbáries, para que todos saibam do ridículo que vocês representam na história deste clube’.
(Outros técnicos viravam-se para estas numeradas e batiam boca com os mesmos estafermos, enquanto nosso time tomava gol, em plena Libertadores: deu no que deu.)
Também me lembro que pouco antes de ganharmos a América, em 99, com Big Phil no comando, havia rumores de que Alex e Zinho não se falavam – e que ambos estavam ensaiando um boicote mútuo dentro de campo. Felipão, que é maior que tudo isso (e que todos eles) trancou os dois no vestiário e sentenciou: ‘Não quero saber dos motivos, não quero saber quem tem razão. Eu vou sair daqui, fechar a porta e vocês vão resolver isso feito homens. E tenham uma coisa bem clara: ou vocês entram num acordo, ou os dois saem do time: não vou colocar só um de vocês em campo. Se resolvam ou eu tiro os dois!”
(Outros técnicos viraram as costas para um boicote semelhante a este, há muito pouco tempo, mostrando que não tinham pulso, firmeza ou caráter para dirigir um time do nosso tamanho: deu no que deu.)
Breve, muito em breve, os ânimos se acalmarão no Palestra. O torcedor, carente e inseguro, afoito e apaixonado, saberá que o Palmeiras está sob as rédeas de um cavaleiro que tem pulso para dirigir tal puro sangue. E mesmo que demoremos para voltar aos trilhos (Luis Felipe Scolari, lembrem-se, nunca foi de ajeitar uma esquadra do dia para a noite), o Palmeirense saberá que estamos trilhando o caminho certo. Neste dia, então, desavenças de opinião, disputas políticas e pecuinhas menores terão seu devido lugar na história: a jaula da numerada coberta, aquela aberração que nem existirá mais.
As frases de efeito em um momento de glória, o choro emocionado perante a mídia… confesso que tudo isso eu já vi antes, na estratégia de gente bem melhor, e não me diz muito. Mas tenho que reconhecer que, por mais que tenha falhado, Luis Gonzaga Belluzzo é um Palmeirense tão gigante e mitológico que nos toca a alma. Com ele nós também choramos, e choramos de verdade.
Não importa para mim, neste momento, o quanto ele tenha errado até aqui, tampouco me avexo em corrigir a rota de minha análise, neste espaço onde tanto o critiquei: Belluzzo ouviu o torcedor, enfim (admitindo isso ou não), e nos trouxe de volta gente capaz de resgatar nossa paixão a ponto de bala. A ponto de êxtase. A ponto de glória e de títulos.
Coisa que só um Palestrino da envergadura de Belluzzo, equivocado ou não, poderia fazer. Porque ele finalmente reconheceu o que ele é (um Palmeirense) e não o que ele projetou ser a frente do Palmeiras (um presidente diferenciado).
Por toda humildade nesta hora, cent’anni, Belluzzo! Pela tua coragem, cent’anni! Por tua Palestrinidade, todo o nosso amor e gratidão - porquanto durar a nossa história!
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