quinta-feira, 22 de abril de 2010

Duas Do Marcão


Os bastidores do quase golpe

Da série ficção, a preferida dos internautas. Começou com um telefonema de um ator consagrado para o diretor do núcleo. Ele estava irado com a peça promocional que foi ao ar na noite de Domingo. Era um institucional de trinta segundos em que ele dizia apenas duas palavras. Mas a montagem induzia o telespectador a acreditar que se tratava, não de uma campanha de aniversário da maior emissora de televisão do país, mas um mosaico grosseiro cujo slogan "a gente faz senpre mais" é uma clara alusão ao do candidato José Serra. E para corroborar com a leviandade, ainda vinha o número quarenta e cinco assinado na peça, ao lado do logotipo. Ao todo, foram quarenta celebridades entre as turmas das produções, humor, shows, esporte e jornalismo. Achei até curioso a manifestação ter partido de um ator e não de um de nós. Afinal, vendemos a eles apenas nossa força de trabalho, não nossas consciências. Será? Nem sei mais... O ator foi duro e franco com o executivo da empresa. 
Se alguma providência não fosse tomada, ele ia aos jornais dizer que foi vítima de manipulação. Era tudo o que a emissora não queria ouvir nessa altura do campeonato. Ainda que seu candidato pudesse ser o mesmo que o da emissora, ele jamais se sujeitaria a trabalhar naquelas condições. E antes de desligar, avisou: Eu não estou sozinho. O diretor pediu paciência, disse que ia encontrar uma saída. Pensou em quem confiar num momento desses de conflito: talvez um executivo que tivesse bom transito com o jornalismo. Afinal, foi coisa dos herdeiros da Corte do Cosme Velho, incentivados pelo Guardião da Doutrina da Fé, pensou. Assim que amanheceu propôs o encontro ao executivo que considerou ser hábil o bastante para apagar o fogo. Nisso a internet já fervilhava. Pressões vinham de todos os lados, a opinião pública, os patrocinadores, os políticos, os amigos. É preciso convencer a direção de que foi um tiro no pé. Mas como fazer isso? Juntando argumentos. E lá foram os dois tentar convencer os acionistas de que aquilo fora um erro. Os artistas respeitam os interesses comerciais e políticos da emissora, mas consideram que não cabe a eles exercer esse papel institucionalmente. O artista é o vendedor de sonhos e ilusões para todos, não só para um determinado grupo político. Afora os artistas, tem os jornalistas que emprestam sua credibilidade à emissora. Ações assim pode arranhar para sempre esse vínculo com o telespectador. E assim foram as tratativas durante toda a tarde. Ok, mas qual seria a solução? Pensaram em várias. Ao final do encontro triunfou aquela que diz assim: "O texto do filme em comemoração aos 45 anos da Rede Globo foi criado - comprovadamente - em novembro do ano passado, quando não existiam nem candidaturas muito menos slogans. Qualquer profissional de comunicação sabe que uma campanha como esta demanda tempo para ser elaborada. Mas a Rede Globo não pretende dar pretexto para ser acusada de ser tendenciosa e está suspendendo a veiculação do filme." Esta noite não vai ser boa, nem para o Guardião, nem para a Central de Comunicação, e muito menos para o patrão. Nós aqui fora sabemos de tudo! O Povo não é bobo. Fiquem espertos.

A fonte, o anonimato e a honra

Estamos no ano de 1985. Segundo Batalhão de Polícia do Exército, à rua Abílio Soares, no bairro do "Paraíso", em São Paulo. Na Companhia de Escolta e Guarda, Pelotão de Escolta, lotado na oficina de motos dos batedores, dá expediente um soldado de número 897, que atende pela alcunha de Aurélio. Sua função é cuidar da limpeza da oficina, das ferramentas, da segurança das peças importadas de motos Harley-Davidson 1200 c.c., do controle do almoxarifado e dos arquivos do escritório. Muitas missões eram sigilosas. O quartel vive uma situação inusitada. O Comandante do Batalhão é menos graduado do que o Comandante da Companhia em que o soldado serve. O Capitão Pereira Barreto, oficial coberto de medalhas, com curso de sobrevivência na selva e paraquedismo, portanto a elite da elite da elite da tropa, é obrigado a se curvar às ordens daquele que, em tese seria seu subalterno, não fosse uma distinção: o Comandante-em-chefe é o principal oficial-batedor de um quartel, cuja a especialidade é escoltar e guardar autoridades civis e militares. O capitão bem que tentou ser batedor, mas não conseguia superar o rigor do exame, diziam as más línguas. E o pobre soldado Aurélio no meio desse fogo-cruzado. No primeiro acampamento, nossa Companhia foi submetida a um massacre pelo capitão Pereira Barreto. Marchamos 16 km com paramenta completa, montamos acampamento e ainda tivemos instrução noturna. Nos outros dias não foi diferente, na gíria: ralo! Quanto exaustos, lá pelo terceiro dia, fomos submetidos a um exercício de guerra. Cada recruta, em pequenos intervalos, partia sozinho para o campo de prova levando uma mensagem secreta. Teríamos que vencer vários obstáculos, entre eles, travessia com água no pescoço, tunel de gás lacrimogêneo, campo hipoteticamente minado e, caso nos perdessemos, cairíamos na emboscada dos inimigos, sargentos e cabos sedentos, verdadeiros cães de guerra. No fim da prova o soldado Aurélio sucumbiu. Amarrado e amordaçado foi obrigado a revelar o conteúdo da mensagem que trazia. Respondeu candidamente: não. Admirados, os cães de guerra tentaram de tudo: coação, intimidação e tortura. Entre os dedos da mão espalmada um cartucho de festim do fuzil automático leve, o FAL. Enquanto um comprimia os dedos, o outro girava a ponta que ía perfurando a pele. Quando perceberam que o soldado não entregaria os pontos decidiram libertá-lo, não sem antes parabenizá-lo. Ao chegar ao acampamento, o oficial que prestou assistência médica perguntou se o soldado tinha algo a representar contra algum militar. Mais uma vez ele, candidamente, disse não. Entrou em forma com outros recrutas com a mão enfaixada, sentido dores por todo corpo e em silêncio. No dia da baixa antecipada por uma moléstia hereditária, o capitão Pereira Barrero, ao assinar o documento de liberação, olhou fixamente para o recruta e disse: - É uma pena que você está deixando o Exército Brasileiro. Você tem honra, a maior qualidade de um homem. Durante todo o dia de hoje fui assediado para dizer como consegui a história que publiquei ontem. Depois de 20 anos de profissão, descobri que uma fonte só te revela uma informação bombástica quando tem certeza que o anonimato dela será preservado mesmo sob totura, ou com a própria vida, se for preciso.

2 comentários:

maureliomello disse...

Com duas eu não durmo. Prefiro o momento G-zuis!
beijos,
Marcão

Tito disse...

KKK
bj